quarta-feira

# PRÓLOGO


Havia jurado nunca mais me apaixonar e tinha certeza de que pelo menos essa promessa, cumpriria. Depois de uma série de encontros e desencontros catastróficos com todos os tipos de sapos, havia encontrado meu príncipe, e vivia feliz desde então. Pensar em sofrer por amor, de novo, seria ridículo, indecente e bem cafona. Impossível. Nem em caso de morte. Paixão era algo fora de cogitação. A paixão sempre foi perigosa, cheia de curvas e que te levava para caminhos, sempre, não apropriados. Não havia como apaixonar-me novamente, tinha um mundo perfeito, com um apartamento dos sonhos e tudo mais que o dinheiro pudesse comprar. Apaixonar-se, nessa altura do campeonato, seria absurdamente impensável. No entanto, não era o que você pensava. Não quando se apaixonou perdidamente e me abandonou. No início, me fiz de forte e depois desabei. Decidi não te amar mais e achei que assim resolveria todo o meu problema. Mas sempre houve um vazio. Um vazio tão profundo que chegava a doer na minha carne mole de não fazer nada. Um vazio que todo fim de tarde manifestava-se e que muitos amigos convencionaram chamar de depressão. Apesar da vida perfeita, sempre fui rotulado como o ‘depressivo triste’ e até tirava proveito desse título para fugir de compromissos sociais tediosos. Mas no fundo, bem lá no fundo, nunca me senti depressivo. Vazio sim, isso sinto todos os dias. Um buraco sempre houve aqui. Fundo, feio e desconhecido, mas era meu buraco, que cabia tudo, menos uma nova paixão. Mas eu precisava desnudar esse vazio para entender quem eu era, e mesmo fugindo das convenções, eu dei ouvido às vozes que me atormentavam e eu saltei nesse abismo e caí. Feito uma pedra.

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